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À ALTURA DO OLHAR

Minha intenção com este trabalho nunca foi de denúncia, na verdade o que me importa é trazer de volta ao mundo visível aquilo que acaba por ser “escondido” pela rotina, aquilo que está no nosso caminho diário e que acabamos por deixar de ver. 

Gosto muito de ver no caso dos intrusos, a criatividade que faz soluções às vezes um pouco despropositadas, mas que certamente tampam os buracos e, no caso dos vestígios acho importante ver o que foi incorporado nos azulejos como história, que deixa marcas e cicatrizes, mas por outro lado são os testemunhos de tudo aquilo que já passou ali…

 

Uma exposição revela os Intrusos e resgata os Vestígios.

Fotografias de Ricardo Junqueira

 

Quando temos olhos para o caminho, as ruas desafiam o destino.

 

As ruas são feitas de gatos e de idades curiosas à janela, de estendais arcados e de portas interrompidas. De vasos com sede, do saco do pão pontual, da campainha que acorda o silêncio, da caixa do correio de escrita enferrujada.

Nos meus caminhos de Lisboa, percebi que existe uma medida-padrão que desafia constantemente as chegadas. Um após o outro, lado a lado, o coro alinhado de azulejos traz em si uma luminosa vaidade que só é interrompida, como embaraçoso soluço ou corda partida de violino, quando falta um elemento. Mais tarde ou mais cedo, mais ou menos a propósito, mais ou menos no tom, alguém inventa uma solução. A criatividade vem pela mão d’os Intrusos, cujo papel é sossegar novamente a vaidade, trazendo-lhe um novo brilho. Com o tempo, porém, as cores somem-se trazendo ao de cima os Vestígios, com o charme de uma vida cheia de histórias para contar a quem, como eu, quer ver.

Ricardo Junqueira